quinta-feira, 16 de abril de 2009

Segregação, União e Laquê

 

Título Original: Hairspray (EUA, 2007)

Site Oficial: www.hairspraymovie.com

Direção: Adam Shankman

Roteiro: Leslie Dixon


 

Elenco

Nikki Blonsky (Tracy Turnblad)

John Travolta (Edna Turnblad)
Michelle Pfeiffer (Velma Von Tussle)
Christopher Walken (Wilbur Turnblad)
Amanda Bynes (Penny Pingleton)
Queen Latifah (Motormouth Maybelle)

Chegou às locadoras "Hairspray – Em Busca da Fama". É um dos musicais mais bem-sucedidos dos últimos anos. Talvez não tenha alcançado a popularidade de Moulin Rouge, mas o público compareceu em peso à esta comédia bem-humorada. 
  
Em Busca da Fama conta a história da jovial e cheia de energia Tracy Turnblad, cujo maior sonho é dançar na TV em um programa "para os garotos mais legais da cidade". Acontece que a carismática Tracy é, por assim dizer, uma protagonista de peso! Surpreende já nas primeiras cenas pelo seu talento, mas principalmente por não ser a heroína com a qual estamos acostumados. 
Com seus quilos a mais, Tracy sente na pele o que é ser discriminada por sua aparência. Para piorar o cenário, o pano de fundo é a Baltimore dos anos 60, que apesar do glamour do sonho americano e litros de laquê, é manchada pela lamentável discriminação e segregação racial, o que torna o filme um lamento de todos aqueles que se vêem fora dos rígidos padrões impostos pela sociedade
  
Com um elenco impecável, Hairspray conta com o esquisito, porém talentoso Cristopher Walken, como o pai de Tracy, a beldade Michelle Pfeiffer no papel da asquerosa Velma, a diretora prega os melhores valores 'brancos" e Queen Latifah como Motormouth Maybelle, a própria voz do orgulho negro. No elenco também está o mais jovem galã de Hollywood, aquele por quem as adolescentes suspiram: Zac Ephron, o fenômeno de High School Musical, numa interpretação mais madura, e finalmente com a voz estabilizada, depois da tempestade hormonal que geralmente acomete os moçoilos na puberdade. 
  

Porém a interpretação mais curiosa, e porque não, mais saborosa do filme fica com John Travolta, que rouba a cena, travestido de mulher como Edna Turnblad, a mãe de Tracy. Será que inconscientemente o John pensou que Hairspray tinha a ver com "Nos Tempos da Brilhantina", filme que o lançou ao estrelato? Se sim, ele acertou em cheio. O filme bem poderia se chamar 'Nos Tempos do Laquê e dos Penteados Pega-rapaz". 
Ao invés de nos tentar fazer rir de piadinhas jocosas sobre drags ou apelar para o exagero escrachado, Travolta convence como uma doce e ingênua dona de casa, e suas cenas com o marido Cristopher Walken são comoventemente verdadeiras. Nada mau para um ator que teve o auge do sucesso interpretando um matador à sangue-frio em Pulp Fiction – Tempos de Violência. 
Quem viu a versão original do diretor John Waters, de 1988, entende a escolha do diretor Adam Shankman. É que no filme original, o papel ficava com a famosa travesti Divine, causando furor no meio artístico. 
  
Bem, a cheinha Tracy acaba por fisgar o Zac, o garoto mais popular do colégio, para alegria e redenção de todas aquelas com curvas a mais na silhueta (incluindo aquela que vos fala). Ela se torna amiga dos negros da cidade, que possuem a melhor dança. Tudo acaba bem, certo?

 Errado. A elite branca faz de tudo para impedir a integração das "pessoas de cor", e tudo culmina numa belíssima cena onde Queen Latifah comanda uma marcha ao som de uma canção de protesto. Estávamos na Era de Aquário, tempo de abertura, época de Hair (aliás outro musical que marcou época clamando pela paz). Citando Motormouth Maybelle, "ficar sentado seria um pecado". 


Hairspray é bonito, despretenciosamente tocante e até mesmo inspirador...porém onde estão as Tracy Turnblads nos Big Brothers da vida em pleno 2008? Numa época onde cirurgias plásticas, dietas da moda e silicone estão cada vez mais onipresentes, o que mudou? Para ser celebridade hoje em dia, basta ser loira, magra, e estar em um Reality Show. 
  
Quem sabe ainda podemos sonhar com a frase de Corny Collins, o apresentador do Show dos sonhos de Tracy: Este é o Futuro.
  
Onde os excluídos são integrados, onde dançamos ao som das dificuldades, onde não existem barreiras para aqueles que ousam ser diferentes.




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