quinta-feira, 16 de abril de 2009

Gabo nos Tempos do Multiplex


Título Original: Love in the Time of Cholera (EUA,2007)
Gênero:
Drama, Romance
Direção:
Mike Newell
Roteiro:
Ronald Harwood (adaptação do livro de Gabriel García Márquez)
Estúdio:
New Line Cinema / Stone Village Pictures

Elenco:

Javier Bardem
(Florentino Ariza)
Giovanna Mezzogiorno
(Fermina Daza)
Benjamin Bratt
(Dr. Juvenal Urbino)
Fernanda Montenegro
(Transito Ariza)
John Leguizamo
(Lorenzo Daza)

Gabo nos Tempos do Multiplex

Quando era apenas uma adolescente, Luíza Márquez conheceu o telegrafista e poeta Gabriel Elígio Garcia e se deixou levar por uma paixão arrebatadora. O pai da jovem, no entanto, se opôs fortemente ao inconsequente devaneio juvenil e afastou a moça do convívio da sociedade por mais de um ano, levando-a em uma longa viagem pelo interior da Colômbia. Para manter o contato com sua amada, Gabriel montou uma extensa e clandestina rede de comunicação via telégrafo, e com a ajuda de amigos, continuou falando com Luiza até seu retorno. Essa é a parte real da história. Dessa união, nasceu Gabriel Garcia Márquez, um dos maiores escritores modernos e ganhador do prêmio Nobel de literatura.

Lembro de que ao ler “O Amor...” pela primeira vez, aos 15 anos, pensei que nunca ninguém havia sido tão romântico, nem mesmo Romeu e Julieta. É a história de um homem que espera por sua amada por mais de cinco décadas, até que ela finalmente aceite sua jura de amor eterno e incondicional.


 Mike Newell, o diretor, já fez algumas coisas dignas de nota, como “Quatro Casamentos e Um Funeral”, e até dirigiu um Harry Potter. Mas filmar o grande “O Amor nos Tempos do Cólera” em inglês chega a ser quase uma heresia. Assim como o cenário, a língua espanhola está tão presente e entranhada em todos os aspectos do livro, que poderia ser quase uma personagem em si. Essa mania dos estadunidenses de traduzir tudo para sua língua é um tantinho irritante (o Mike Newell é inglês, mas os filmes são produzidos já pensando nos prêmios da academia). “Sombras de Goya” em inglês perdeu metade da alma do filme (aliás com o mesmo Javier Bardem falando com sotaque), e as refilmagens cena a cena de grandes filmes como “Abre los Ojos” (Vanilla Sky) ou o horror japonês “Ringu” (O Chamado) não chegam nem aos pés dos originais.

O pano de fundo deste romance é uma atração à parte.
Tudo se passa em um universo fantástico de Gabo, inspirado na sua querida Cartagena das Índias, na Colômbia, nos tempos em que o cólera assolava a América Latina deixando o funesto cheiro da morte por onde passava.

O filme foi bem-recebido no Brasil, já que a veterana Fernanda Montenegro interpreta uma personagem-chave, pelo menos na versão literária. Fernanda desempenha seu papel com alma e paixão e se entrega sem reservas a uma das melhores atuações do filme. 

Javier Bardém não deixa a desejar e interpreta um homem sensual, misterioso e seguro de si, embora passe uma vida obcecado por conquistar o amor de uma única mulher...decididamente, os tempos mudaram! 
Falando na protagonista, se não fosse pelo livro onde Fermina Daza era uma mulher forte e encantadora, com uma presença única, não saberíamos o que o bonitão espanhol viu nela. A atriz italiana Giovanna Mezzogiorno é bela, porém inexpressiva. No filme, passa a impressão de puramente antipática. Agora vem cá...quero a receita de beleza dessa moça. Na história se passam cinqüenta anos e a garota não ganha sequer uma linha de expressão! Há um choque, é verdade, quando a protagonista se despe pela primeira vez no filme e já está com mais de setenta anos. É uma cena corajosa e bela sem ser vulgar, essencial na versão cinematográfica, já que no original é um dos momentos mais delicados da história. No filme, assim como no livro, Fermina repudia seu amante com a frase: “Tenho cheiro de gente velha”. Eu sempre soube que essa frase iria para a película.

O ingresso (ou agora, a locação) vale à pena, e verti litros de lágrimas a cada cena do filme.

 Só estranhei um pouco o fato de entrar no universo do realismo fantástico de Gabriel Garcia Márquez, das cores e sons da Colômbia e de repente sentir cheiro de pipoca e sair da sessão direto para a fila do caixa do estacionamento no Multiplex. É...ir ao cinema não é a mesma experiência de alguns anos atrás.

Para mim, Gabo será sempre Gabo, o amor será sempre o amor, e cinema será sempre sem pipocas. 


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