sexta-feira, 24 de abril de 2009

The Wild Angels


Título Original: The Wild Angels (EUA,1966)
Gênero:
Ação / Drama
Direção:
Roger Corman
Roteiro:
Peter Bogdanovich e Charles B. Griffith
Estúdio:
American International Pictures (AIP)

Elenco:

Peter Fonda
(Heavenly Blues)
Bruce Dern
(Mike)
Nancy Sinatra
(Jack)
Diane Ladd
(Gaysh)
Buck Taylor
(Dear John)


The Wild Angels
Sua Fé é a Violência, seu Deus é o ódio.
Três anos antes de Peter Fonda marcar uma geração com Easy Rider, o diretor Roger Corman trazia o primeiro de uma série de Biker Movies. Para quem se aventurou através da América com Wyatt e Billy, “The Wild Angels” irá evocar toda uma gama de sensações. 

Peter Fonda e Bruce Dern são uma dupla de motoqueiros integrantes do Hells Angels da Califórnia que atende pelos nomes geniais de Heavenly Blues e The Loser. Com nomes desses, quem precisa de Harleys? 

A seqüência de abertura de “Wild Angels”, com o garotinho de triciclo que encontra Heavenly Blues em sua Harley Davidson é genial, e apenas um prelúdio para outros momentos cheios de inspiração, embora essa seja sem dúvida a melhor cena do filme.


O filme traça um retrato bastante fiel do Hells Angels, uma gangue de motoqueiros famosa por se considerarem foras-da-lei e totalmente marginalizados pela sociedade. Os Angels marcaram os anos 60 com uma bandeira que pregava a liberdade, a ousadia e a total desobediência civil, em uma época de profundas incertezas com uma juventude desiludida por falsas promessas. Como pano de fundo, a guerra do Vietnã. Não que isso seja parte integrante do filme, mas em determinado momento da história onde a tensão se acumula cada vez mais, Mike liga o rádio e escuta uma notícia sobre um ataque aos vietcongues. 

Um episódio famoso envolvendo o Hells Angels foi quando eles foram contratados pela banda Jefferson Airplane e pelos Rolling Stones a fazer a segurança do Altamont Free Concert, em 1970. Diz a lenda que o pagamento seria um caminhão abarrotado de cerveja. Despreparados para lidar com o público, armados e ainda embalados por drogas e rock n´roll durante um dia inteiro, os Angels se envolveram em um conflito com os espectadores que resultou em muitos feridos e quatro mortos. Por aí já dá para ter uma noção de que eles não eram de brincadeira. Aliás, este episódio está muito bem retratado no documentário Gimme Shelter, de 1970, que mostra a turnê de 1969 dos Stones, o evento de Altamont e uma seqüência interessantíssima onde os Stones assistem a tudo depois e refletem sobre o acontecido.

Quando o grupo de motoqueiros aparece junto pela primeira vez, há apenas a estrada e a amplidão esmagadora do céu no deserto da Califórnia. O vento na cara, a estrada que chama. Isso dura alguns instantes, até que logo aparece um policial. Já naquela época a fama dos bikers era notória, então ele logo avisa pelo rádio que os “Angels” estão indo para o sul.
Ao tentar resgatar a moto roubada de Loser numa cidade do México, o grupo de motoqueiros liderado por Blues é perseguido por policiais e Loser é baleado. Começa então uma mega-operação para resgata-lo do hospital e impedir que ele vá para o xadrez.



A trama central da história não é tão cativante quanto os inúmeros elementos que tornam este um grande filme. Está tudo lá: os olhos azuis de Peter Fonda (celestiais, como o nome sugere), Nancy Sinatra de mini-saia no papel de Mike, a namorada do motoqueiro que acompanha o líder por onde ele vá, Bruce Dern como Loser e outra beldade da época, Diane Ladd, interpretando sua esposa. Nem todas as interpretações são notáveis, e as garotas parecem servir apenas ao propósito de decoração. Diane Ladd exerce um papel muito mais interessante no filme que Nancy Sinatra, mostrando como as mulheres poderiam sofrer no meio desses “anjos” do asfalto. 

Na verdade, todos os personagens de “Wild Angels” são desprovidos de qualquer senso moral. Tudo isso é recheado daquilo que não poderia faltar: muito sexo, drogas e Rock n´ Roll e um inconformismo dos grandes. Tudo se move num ritmo tão alucinadamente surreal, que Loser no momento da sua morte só deseja ficar doidão e pede por uma baseado (no que é prontamente atendido). Em alguns momentos do filme você se pergunta se parte dessa geração realmente era realmente daquele modo. O desespero humano e a falta de esperança é latente quando você vê um grupo de pessoas que só quer ir contra tudo e contra todos, numa última e auto-destrutiva tentativa de ter as rédeas sobre a própria vida. Nesse ponto o filme atende às expectativas e faz o que se propõe, mas com a crueza das conseqüências de algumas péssimas escolhas dessa geração. Não é um filme para os fracos, muito menos para os moralistas. A estranheza e perturbação do espectador seguem num crescendo até o clímax macabro que tornou o filme amado e odiado, mas você não vai ler nada aqui para não estragar a surpresa.

De certa forma, a popularidade de “Wild Angels” se deve em grande parte a esse sonho não-realizado, o mesmo apelo que as gerações beat e hippie mantém até hoje em alguns poucos corações. Quem não sonhou em ser um fora-da-lei? Quem nunca se sentiu tão opressivamente esmagado pelo sistema que quis jogar tudo para o alto, mudar o mundo e desafiar quem quer que fosse?

 Okay, talvez nem todos. Mas eu ainda secretamente alimento este devaneio, tanto quanto sentir as emoções de ser o dono do seu próprio destino. Não basta viver, há de se viver perigosamente. Não deixo de alimentar a crença sincera de que todos nós ansiamos por liberdade, por quebrar as regras e seguir apenas a batida do coração e a direção do vento. 







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