sábado, 1 de agosto de 2009

Ensaio Sobre a Cegueira


Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness)
Brasil, Japão, Canadá, 2008 - 120 min
Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Don McKellar, José Saramago (livro)
Elenco:
Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover, Gael García Bernal



A expectativa que cercou o lançamento de “Ensaio Sobre a Cegueira” era justificada: José Saramago, Nobel de literatura filmado por Fernando Meirelles, um dos maiores cineastas brasileiros, com um currículo que inclui os aclamados “Cidade de Deus” e “O Jardineiro Fiel”.

Quando um motorista subitamente perde a visão em meio ao caótico trânsito de uma grande metrópole, no que ele classifica de uma “cegueira branca”, uma estranha epidemia se alastra rapidamente. O governo alarmado ordena que todos aqueles acometidos do mal sejam isolados e colocados em quarentena. Aqueles que tentam sair são imediatamente mortos, e quando o sistema começa a falhar a bestialidade humana aflora em sua expressão mais animalesca.

Em meio ao caos, sujeira, falta de comida e condições desumanas das alas onde os doentes são confinados, toda sorte de horrores acontece. Apenas uma pessoa pode enxergar: é a mulher do médico, arquétipo nítido daqueles que estão acordados em um mundo onde todos parecem estar dormindo, confrontada com sua impotência em um cenário de horror.

Meirelles deve ter perdido algumas noites de sono ao corajosamente se propor a passar para as telas um filme que era considerado impossível de ser filmado, mas competentemente reafirma Stanley Kubrick que disse que “se algo pode ser pensado ou escrito, pode ser filmado”, e reconstruir uma São Paulo devastada não é tarefa simples. Os planos da cidade são magníficos, com destaque para o Viaduto do Chá. Ao fundo, apenas desolação.

A parábola é uma metáfora óbvia para a idade das trevas em que a humanidade se encontra. Ao mesmo tempo em que vemos a humanidade alcançar inimagináveis avanços tecnológicos, temos o número inacreditável de um bilhão de pessoas passando fome no mundo, segundo o último relatório divulgado pela ONU. Ameaças de doenças e guerras espalham o medo nos países desenvolvidos, e a humanidade parece tão conformada quanto na própria idade média.

“Cegueira” é perturbador para as platéias porque sabemos que estamos a um passo do abismo, e que nossa única saída como espécie é aprendendo a confiar uns nos outros e saber estender a mão para o próximo. Nesse sentido, o filme é muito mais que uma imagem pessimista da humanidade. Ele mostra a solução.

Talvez para alguns, a cegueira branca seja a verdadeira luz que leva à redenção. Privados do seu sentido mais imediato de percepção do mundo externo, os homens são obrigados a olhar para dentro, e é instintivo lembrar do colega de Saramago no Nobel de literatura:

"Considero a vida humana como uma noite profunda e triste, que não se suportaria se, num ponto ou noutro, não rutilassem repentinos clarões, de uma luminosidade tão consoladora e maravilhosa que seus segundos podem apagar e justificar anos de escuridão” – Herman Hesse.





3 comentários:

  1. Boa reflexão, Julia.
    E assim caminhamos, percebendo alguns momentos de lucidez mas constatando que, em geral, não há muito para comemorar. A escuridão vai dominar por muitos anos ainda.

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  2. Essa Obra e muito boaa !!! serioo !!! Otimo post !! parabenssss bjomm vou ate te seguir rs

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  3. Dos livros de Saramago que li esse não é dos meus preferidos, e esse filme me deixou com chatura.:D

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