quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A Palavra do Júri


Na última e derradeira ressaca pós-festival, reproduzo aqui minha matéria que foi publicada ontem, 18.18 .09 no Caderno G da Gazeta do Povo.

Há poucas semanas atrás, recebi a inesperada notícia da Gazeta do Povo.
Eu havia escrito uma crítica sobre o filme “Jogo de Cena” de Eduardo Coutinho, e meu texto foi escolhido entre todos os outros concorrentes.

Sim, eu iria para o Festival de Cinema de Gramado para integrar o corpo do júri popular. Não precisei de mais que alguns minutos para decidir. Fiz minhas malas e embarquei para os pampas, cheia de expectativa.

Ao chegar a Gramado debaixo de chuva torrencial, a primeira parada foi no pavilhão da Expogramado, onde tudo relativo ao festival se concentra; a organização, stands de universidades e empresas, salas para entrevistas coletivas. Toda a agitação era um prenúncio da semana que iniciava.

Conheci os outros membros do júri popular e a integração foi imediata. Éramos de diferentes estados do Brasil, representando grandes veículos como o Diário de Pernambuco, o jornal “a Tarde” da Bahia e o Estadão, de São Paulo. As idades variavam entre 18 a 57 anos, e incluíam profissões tão diversas quanto um arquiteto, um advogado, uma artesã, uma contadora e alguns estudantes. Todos nós fomos vencedores de concursos sobre cinema, e compartilhávamos a mesma paixão; a tela grande na sala escura. A intenção do júri popular é exatamente a de refletir essa diversidade entre os espectadores brasileiros.

O primeiro filme que assistimos foi ‘Quase um Tango” de Sérgio Silva. Assim que chegamos, recebemos a orientação expressa de manter absoluto sigilo em relação às nossas opiniões sobre os filmes e não emitir qualquer juízo de valor nem mesmo entre nós. A regra foi observada, embora com dificuldade, já que sair do cinema para jantar e comentar os filmes entre si é algo intrínseco à experiência. Assim fomos até o quarto dia do festival, quando pudemos conversar com mais liberdade sobre nossas opiniões. Alívio geral: estávamos praticamente em consenso em relação aos filmes exibidos até então.

Cada filme foi para nós uma surpresa, e aos poucos fomos desenvolvendo nosso olhar. Um destaque foi o filme Peruano “La Teta Assustada”, que já havia ganhado o Urso de Ouro em Berlim. “Teta assustada? E isso lá é nome para alguma coisa?”, alguém comentou.

O filme foi uma agradável surpresa. Encontramos uma história sensível com uma personagem profundamente complexa, que demorou a encontrar empatia com o público, mas que ao longo dos dias assumiu um lugar de destaque em nossos corações. O prêmio do júri popular acabou indo para LLuvia, da argentina Paula Hernández, mas não foi uma decisão imediata.

Já a deliberação para melhor longa-metragem nacional foi quase que unânime. O documentário Corumbiara emocionou a todos nós, contando o massacre de índios ocorrido na Gleba Corumbiara em Rondônia. O diretor Vincent Carelli exibiu ali a obra de uma vida, feita com suor, sangue, lágrimas e muita coragem. Lavamos a alma ao aplaudir de pé todos os prêmios que esta obra-prima ganhou na última noite.


A semana se passou entre muitas alegrias, experiências inéditas, festas, discussões de alto nível sobre a sétima arte. Ah, e não faltou todo o Glamour associado ao festival de Gramado. Passamos pelo tapete vermelho, conhecemos pessoas, fizemos amigos para sempre.

Os momentos que antecederam a partida foram cheios de nostalgia, alguma tristeza e profunda satisfação por reconhecermos a importância do prêmio oferecido pelo júri popular e nossa imensa responsabilidade como jurados. Agora amigos, de volta à vida real, onde festas, tapetes vermelhos e casas de Caras não fazem parte do dia-a-dia. Pelo menos até o ano que vem!

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