terça-feira, 20 de julho de 2010


Título Original: É Proibido Fumar (Brasil, 2009)
Direção: Anna Muylaert
Roteiro: Anna Muylaert
Elenco: Glória Pires, Paulo Miklos, Marisa Orth





Oito anos. Este é o hiato que separa "É Proibido Fumar" do primeiro longa-metragem da paulistana Anna Muylaert, o mordaz "Durval Discos". Se o primeiro foi sucesso de público e crítica, o segundo não ficou atrás.

Glória Pires é Baby, uma professora de música que preenche seus dias monótonos entre aulas de violão e discussões em família, e tem como fiel companheiro de noites e dias solitários o maço de cigarros que a conforta. Quando o apartamento ao lado é alugado para Max, um cantor de churrascaria interpretado por Paulo Miklos, os dois iniciam um relacionamento que rapidamente transforma a personalidade de Baby. O desejo de se relacionar faz com que Baby se diminua e se torne mais contida, fazendo esforços sobre-humanos para cortar o hábito nefasto e ser a parceira ideal para Max. É fácil criar empatia com Baby nos primeiros minutos, graças a uma personagem bem construída, verossímil e delicada - e pelo cuidado da excepcional direção de arte ao construir seu apartamento - é através dele que entendemos as nuances de seu comportamento.

Em seu papel menos comercial no cinema, Glória Pires mostra que ainda é a atriz consistente que vive no imaginário de mais de uma geração brasileira: são quarenta anos de uma carreira impecável, porém pautada principalmente por telenovelas e por filmes menos pretensiosos e mais acessíveis ao grande público, como a franquia de Daniel Filho "Se Eu Fosse Você". A mesma atriz responsável pela maior bilheteria da história do cinema nacional é também capaz de desempenhar papéis densos e humanos.

"É Proibido Fumar" é uma crônica suburbana do cotidiano e seu grande trunfo reside nos diálogos impecáveis - simples mas verdadeiros, que mostram que a diretora e também roteirista entende seus personagens, conhece seu dia-a-dia e vive suas emoções - detalhes que o espectador talvez não perceba conscientemente mas que são a essência de roteiros que funcionam. O único deslize talvez tenha sido a inssossa ponta da roqueira Pitty, logo no início do filme, em uma cena que não serve a propósito algum - a não ser talvez o de dizer que Pitty não sabe atuar. A diretora já usou o mesmo subterfúgio em Durval Discos, quando Rita Lee faz uma pequena aparição como cliente esquizofrênica da loja de discos - mas a diva do rock brasileiro nao precisa de motivos para estar ali - já Pitty...melhor nem comparar.

Mais uma vez Anna Muylaert faz da música uma personagem central em seus filmes - ou no caso, quase que uma narradora, como na cena em que a Ópera "Carmem", de Bizet, funciona para dar ritmo e cadência a um engarrafamento no trânsito. Em Durval Discos o personagem principal vivia e respirava música, em "É Proibido Fumar" são dois protagonistas pautados pelo som e por referências saudosistas da MPB, e Chico Buarque e Jorge Ben são homenageados do começo ao fim, inclusive no figurino da atriz. Os dois grandes mestres inclusive servem de contraponto aos dois amantes: enquanto uma é sensível e possui alma romântica, o outro é expansivo e despreocupado - e a química é fulminante.

Temos aqui uma grande diretora que nos presenteia com um filme que não é comédia, mas nos faz rir - não é drama, mas é tocante - e não é blockbuster, mas já nasceu memorável.

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